O que doeu mais? A pedra nos rins ou o parto normal?
Para quem não sabe, no ano passado aos seis meses da gravidez da minha filha tive pedra nos rins, cinco horas de dor intensa sem poder fazer muita coisa para não afetar o bebê. Quando não aguentei mais fomos ao hospital e lá diagnosticaram as pedras e uma em movimento pra sair. A médica me deu um remédio pra dormir e falou: "- Não tem muito o que fazer a não ser esperar ela sair."
Sim, dois dias depois... ela saiu, do tamanho de um grão de arroz.
Quando engravidei decidi que gostaria de ter minha filha de parto normal a não ser que a vida dela ou a minha estivesse em risco, então partiria para a cesária. Aqui no pacífico aonde moro é muito normal o parto normal, inclusive o trabalho de 'parteira' para esses lados está longe da extinção. Muitas amigas me chamaram de doida em querer 'sofrer' desse jeito com tanta tecnologia disponível nesse mundo.
A melhor conversa que tive foi com a minha querida vó Doca (1930-2013). Ela teve 13 filhos de parto normal sendo 12 em casa com parteira. PRONTO! Ali no cólinho dela num maio de 2012 decidi que eu iria me inspirar na minha avó para tentar o parto normal. Todas as outras vozes contrárias eu iria ouvir mas pensar nela e em como ela criou seus filhos fortes e viveu forte até os 83 anos de idade.
Em setembro 2012 foi o tempo da Isabella nascer e após uma semana longa de contrações, ela nasceu de parto normal a 1:15 da manhã do dia 15 de Setembro de 2012. Lembro que durante as contrações cantei algumas músicas, como se estivesse em um outro mundo aonde somente eu, a Isabella e Deus fazia parte. "Se paz a mais doce.... " "Somewhere over the rainbow..." e outras foram as letras que cantei pra ela. A cada dor da contração eu falava: "Vamos lá Isabella você vai conseguir, mamãe e papai tão esperando aqui por você" ou as vezes eu falava para mim mesma: "- Vamos lá Nádia, sua vó conseguiu, sua amiga Liliane conseguiu, milhões de mulheres nesse mundo conseguem, as mulheres na África, Ásia conseguem, você vai conseguir." O Ricardo ali assistindo aquela cena de uma mulher meio "doida" conversando o tempo todo.
Verdade nua e crua descrever isso eu sei (me perdoem os meninos), mas na hora dela sair o Ricardo foi o primeiro a pegar a cabeça dela tirar para fora e dar ela pra mim. Ouvir aquele choro foi o som mais bonito que já ouvi na minha vida, aquela cena foi um momento mágico difícil de descrever, eu acabara e dar a luz à um ser humano. Ela deitou no meu colo, chorou chorou até acalmar e dormiu. Mais tarde, com os olhinhos ainda inchados e fechados ela procurou o peito e começou a mamar.
Sei que quero ter outros filhos e cada um terá sua própria história que será única, tão importante quanto, mas esse primeiro foi um momento indescritível.
Eu só lembro que dizia assim: "-Você conseguiu filha!, Você Conseguiu!"
A primeira pessoa que ligamos no skype? adivinha?! Foi a minha avó Doca.
Eu precisava que ela soubesse o quanto me inspirou na vinda da minha primeira filha ao mundo. Olhar ela feliz e vendo a sua bisneta foi algo inesquecível.
Também porque foi a última vez que vi a minha avó. Ela faleceu em Janeiro de 2013 e seu rosto vai ficar marcado pra sempre na memória com aquele seu sorriso de contentamento em saber que foi a inspiração para um dos momentos mais marcantes na vida de sua neta.
Enfim, depois de todo esse contexto fica a pergunta novamente
Qual é a dor maior?
Sabe, alguns amigos dizem que experimentei a duas maiores dores no mundo! E se isso for verdade, ou não, eu discordo de que elas realmente sejam as maiores dores do mundo.
Refletindo a respeito, acho que pessoalmente cortar a carne, por dentro ou por fora não são dores tão fortes quanto os cortes da alma.
Aqui segue minha humilde lista (e você é bem livre pra discordar) das maiores dores da vida de um ser humano:
1# A dor da saudade: Pra mim não tem dor maior do que a dor da saudade, de você saber que está longe e que talvez nunca mais veja aquela pessoa. A dor de perder alguém que se ama. É tentar curtir ao máximo certos momentos na vida como se fossem últimos. Como foi o que aconteceu com minha avó. De não ter dado tchau como manda o figurino da vida e ficar se perguntando sempre: "Poxa, nem parece que ela foi embora pra sempre, será que é verdade?"
É sentir saudade dos parentes e amigos e estar longe, digo, beeeemm longe.
2# A dor da rejeição: Pode ser idiota sim, mas qual a menina que nunca foi desprezada por aquele namoradinho que amava tanto na adolescência (ou vice versa)? Ou um amigo que já não é mais amigo. Não sei qual foi sua experiência com rejeição mas eu já tive várias que não valem a pena serem citadas e pessoalmente acho que a dor da rejeição mexe com a identidade de quem somos, de querer entender o porque não somos aceitos do jeito que somos. Se Deus fez a gente assim, porque para algumas pessoas é tão difícil nos amar, aceitar. É uma dor que não se explica, é profunda e cortante e deixa cicatrizes para o resto da vida.
3# A dor amor: Essa dor eu descrevo como sofrer com e por aqueles que você ama. Minha filha é apenas um bebê mas a dor de ver ela sofrer quando fica doente e a impotência de não saber o que fazer é muito forte.
Sofrer pelas escolhas erradas das pessoas, amigos que você ama.
É sofrer por ver alguém que você ama sofrer.
Hoje, eu fico olhando nos olhos inocentes asiáticos esbugalhados da minha filha e pedindo a Deus que ela faça boas escolhas na vida. E ela nem cresceu ainda mas observando alguns amigos ao nosso redor que sofrem com as escolhas dos seus filhos é muito triste, e acho que não tem dor maior do que ver as pessoas que você ama sofrer.
Enfim, só uma reflexão do dia...
E pra você? Qual seria, na sua opinião a maior dor do mundo?
